segunda-feira, 22 de junho de 2015

Opinião | A Filha do Capitão, de José Rodrigues dos Santos


Ano: 2004
Editor(a):  Gradiva
Páginas: 634

20ª Edição - Setembro 2008
(1.ª Edição a novembro de 2004)


 Resumo da aba direita:

 O capitão Afonso Brandão mudou a sua vida quase sem o saber, numa fria noite de boleto, ao prender o seu olhar numa bela francesa de olhos verdes e voz de mel. O oficial comandava uma companhia da Brigada do Minho e estava havia apenas dois meses nas trincheiras da Flandres quando, durante o período de descanso, decidiu ir pernoitar a um castelo perto de Armentières. Conheceu aí uma deslumbrante baronesa e entre eles nasceu uma atracção irresistível.

 Mas o seu amor iria enfrentar um duro teste. O Alto Comando alemão, reunido em segredo em Mons, decidiu que chegara a hora de lançar a grande ofensiva para derrotar os aliados e ganhar a guerra, e escolheu o vale do Lys como palco do ataque final. À sua espera, ignorando o terrível cataclismo prestes a desabar sobre si, estava o Corpo Expedicionário Português.

 Passado durante a odisseia trágica da participação portuguesa na primeira guerra mundial, A Filha do Capitão conta-nos a inesquecível aventura de um punhado de soldados nas trincheiras da Flandres e traz-nos uma paixão impossível entre um oficial português e uma bonita francesa. Mais do que uma simples história de amor, esta é uma comovente narrativa sobre a amizade, mas também sobre a vida e sobre a morte, sobre Deus e a condição humana, a arte e a ciência, o acaso e o destino.


 Mini-biografia do autor (aba esquerda):

 José Rodrigues dos Santos nasceu em 1964, em Moçambique. Tal como a esmagadora maioria dos portugueses, alguns dos seus antepassados estiveram envolvidos na Grande Guerra, na Flandres e em África. Este romance é o tributo que o autor lhes presta.
 Para além de romancista, José Rodrigues dos Santos é jornalista, profissão que abraçou em 1981 na Rádio Macau, tendo ainda trabalhado na BBC e sido colaborador permanente da CNN.
 Doutorado em Ciências da Comunicação, é agora professor na Universidade Nova de Lisboa e jornalista da RTP. Trata-se de um dos mais premiados jornalistas portugueses, galardoado com dois prémios do Clube Português de Imprensa e três da CNN, entre outros.
 Este é o seu segundo romance.


 Opinião

 Desde que me lembro que tenho curiosidade para ler José Rodrigues dos Santos, com destaque para a sua série de livros protagonizada por Tomás Noronha. Quando surgiu a oportunidade de ler este livro (uma pessoa conhecida emprestou-me o seu exemplar), eu aceitei. Era um obra muito bem comentada e já me tinha sido recomendada por alguns bloggers.

 E, após 634 páginas, eis a conclusão a que chego: Este livro não é para mim.

 Eis as razões:

 Afonso Brandão nasceu numa família pobre e humilde, sendo o filho mais novo de seis irmãos e o único privilegiado com uma boa educação e bons estudos. Começou numa escola primária portuguesa, mas desistiu, como tantos outros jovens da sua época, para puder começar a contribuir para o sustento da casa, sendo-lhe mais tarde oferecida a oportunidade de estudar no seminário e, posteriormente, na Escola do Exército, tendo já ascendido a capitão na altura da entrada de Portugal na Grande Guerra. Em França, conhecerá Agnès Chevallier, uma bela baronesa com quem viverá um grande amor.

 Já que não sei muito bem o meu rumo nesta minha opinião meia-incerta, começo por falar da escrita, que é quase sempre aquela que nos oferece a nossa primeira impressão quando começamos uma leitura. Logo nas primeira páginas que ela me desagradou - não gostava da maneira como a história era narrada nem me cativava muito por aí além. Ao longo dos capítulos, no entanto, fui percebendo melhor porquê: a escrita de um livro é muito importante para mim, necessito de gerar uma ligação com ela e esta insistia em empurrar-me para trás. Fugia de mim, não estava interessada em agradar-me; falava-me num tom tão formal que depressa percebi que ela não estava minimamente preocupada em criar laços comigo. Falo por mim, talvez ela tenha sido mais acessível convosco, mas não simpatizou comigo e assim continuou ao longo das páginas, carrancuda e sem vontade de me aturar. Isso acabou por gerar uma indiferença da minha parte e lá de vês em quando ela decidia chamar-me à atenção com descrições que me faziam revirar os olhos. Destaco a cenas mais picantes que não me agradaram minimamente - a cada comparação, a cada personificação, a cada hipérbole lá eu fazia cara feia e despachava as linhas e o parágrafo, esperando que a próxima cena não aparecesse tão cedo. Senti-me tão distante do autor. Não por este ser um livro narrado na 3.ª pessoa, mas porque tive a sensação de que ele tinha medo de falar comigo. Tão ausente quando podia ser presente estando ausente ou ausente estando presente. Já contava dois - a escrita e o narrador - que não iam com a minha cara por nada deste mundo.

 E depois temos o romance, que foi a maior desilusão deste livro. Não gostei. Não me senti ligada. Não torci por eles ou me senti comovida por todas as dificuldade que tiveram que ultrapassar. Nunca, antes sequer de os protagonistas se conhecerem, me tinha conseguido ligar a uma personagem em particular. Não me intrigavam, não me interessavam. Quando o romance começou, não o senti. Começou por haver uma atração física entre os intervenientes e, quase num piscar de olhos e sem eu ter essa perceção, tornou-se amor. Não percebi (sinceramente não percebi) quando, como, ou por que é que as personagens se apaixonaram. É verdade que, quando se trata de amor, não há um quando, um como ou um porquê, mas não senti nenhuma ligação entre eles. Não decifrei a origem desse afeto, desse relacionamento sentimental e não somente físico. Muito menos fui capaz de imaginar Agnès no papel de uma elegante baronesa vestida com elegância e toda ela elegância, charme e glamour. Começou por ser Agnès, doce e delicada como uma flor, transformou-se numa requintada dama e, após se envolver com Afonso, voltou a ser Agnès, carinhosa, frágil e nada dominante, e esta mudança fez-me confusão. Não gostei dela. Não simpatizei com ela. E os "momentos amorosos" foram tão lamechas que não revirar os olhos era quase impossível.

 Relacionado com o cenário e o tempo histórico deste livro - França durante a 1.ª Guerra Mundial: nota-se que o autor teve um enorme trabalho de pesquisa, mas eu dispensava a maior parte da informação. Informação sobre guerra, ataques, defesas, ofensivas (seja lá o que isso for) que não compreendi nem interiorizei, porque, lá está, não compreendi nem metade. E bem... guerra é guerra e guerra cansa. No entanto, mais do que cansar, enerva-me, por ser tão ridícula, tão desprovida de sentido. Expliquem-me o seu propósito, comentem a minha opinião: O que é a guerra senão um jogo, uma aposta? «Olha, eu quero as tuas colónias lá em África. Fazemos assim: eu pego em alemães, tu pegas em portugueses e pomo-os a matarem-se uns aos outros e, quem ficar para último, fica com Angola, que tal?». Porque é que desconhecidos que nunca fizeram mal uns aos outros se hão-de matar sem motivo? Porque a maldita da nação precisa de se sentir mais importante? Eu até entendo a intervenção militar em algumas situações mais extremas, mas, digam-me, de que valeu tudo isto a milhares de crianças órfãs, milhares de mulheres viúvas, milhares de lágrimas de mães chorosas? Umas malditas colónias que viriam a ganhar independência seis décadas mais tarde - que, aliás, mereciam a independência desde o início? Se tiver que apontar uma qualidade desta obra, escolho o facto de me ter feito, em alguns poucos momentos, experienciar as lutas dos nossos soldados, dos nossos guerreiros, que lutaram até o fim, contra as condições mais adversas e custa-me que as suas vidas tenham sido sacrificadas num maldito jogo. Qual Jogos da Fome qual quê, quando temos a nossa história manchada de conflitos armados entre nações com objetivos políticos que no fim  prejudicam a situação social e económica dos países? Sim, os Jogos da Fome são uma coisa horrenda, mas, enquanto o Capitólio tira a vida a 23 jovens todos os anos, milhares de outros, na vida real, perderam o pai, o irmão, o avô. Estariam os dois na mesma posição (pois os números não podem classificar a dor) se o mundo criado por Suzanne Collins fosse real. Viver as lutas de Matias Grande, Baltazar Velho, Vicente Manápulas e Abel Lingrinhas só revoltou ainda mais a minha alma. Destaco sobretudo o primeiro - ensinou-me grandes lições sobre a vida e foi o único a única personagem por quem senti algum afeto e que me conseguiu comover, embora não o suficiente. Não sofri com as perdas, porque não entrei na história. Nem sempre estive na pele destes homens, porque eram raras as cenas que achei que mereciam a minha atenção. Só lá mais para o final consegui sentir alguma emoção.

 Um título diz muito sobre a história, dá-lhe mais significado - uma história sem título é uma história sem alma - mas este não é um desses casos. A existência de uma filha, ainda por cima com tão pouca importância, não é razão para chamar a este livro A Filha do Capitão.

 Relendo a minha opinião, vejo que a escrevi num tom mais amargo do que gostaria, embora não tenha sentido quaisquer rancores por esta obra. Não foi uma leitura má. Simplesmente, há livros que não foram feitos para nós, que não nos agarram como parecem agarrar a maioria, que não nos convencem como convenceram a maioria. A escrita não me convenceu, o romance não me convenceu e a guerra revolta-me. Não vou querer ler sobre este tema nos próximos tempos. Mas ainda sou capaz de me aventurar por outras obras do autor - mas, definitivamente, não os romances.






Citações Favoritas:

  •  Um bom livro é aquele que está bem escrito e tem uma boa história. Se o livro está bem escrito mas a história é má, o livro não é bom. Se o livro tem uma boa história mas está mal escrito, também não é bom. O livro só é bom se tiver uma boa história e estiver bem escrito.  [Tenente Timothy Cook]


4 comentários:

  1. Olá :)

    Acho que iria pensar o mesmo que tu em relação a esta obra! É capaz de ser semelhante a outro romance dele que tentei ler: "O Anjo Branco". Também tinha gostado daqueles do Tomás Noronha. Mas quando peguei no "Anjo Branco" nem consegui levar a leitura até ao fim. :/

    Beijinhos,
    Rosana

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    1. Olá, Rosana! :)
      "O Anjo Branco" nunca me interessou particularmente e tal como disse no fim desta opinião, não pretendo, em principio, ler mais romances do autor. Nunca tinha lido uma opinião negativa acerca deste livro e também não sei ao certo o quanto se assemelha aos seus outros romances. Não te posso garantir que não vás gostar deste livro, mas também não me posso garantir que não vá gostar de "O Anjo Branco", por isso acho que estamos na mesma situação. ;) Não sei bem o que me fez ler 634 páginas com conteúdo que não me agradou na sua grande maioria - talvez tenha sido mesmo porque, quando me emprestam um livro, sinto-me no dever de o ler até ao fim.
      Beijinhos e Boas Leituras!

      *Mistery

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  2. Gostei muito como estroturaste a opinião, este livro já me chamou a atenção pelo nome e pela capa, eu gosto de romances, mas não sei se esse é a minha cara

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    1. Fico contente por saber! :)
      Este ano tenho decidido ler livros que em circunstâncias normais não leria, só pelo seu hype e reviews positivas e tenho acabado muito desiludida. Não digo que não possas gostar, mas se não achas que faça o teu género, a minha recomendação é mesmo não dar uma oportunidade. Também gosto de romances, mas este não é o tipo de romance que me chamaria à atenção e acabou mesmo por se revelar uma desilusão.
      Beijinhos!

      *Mistery

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