sexta-feira, 26 de junho de 2015

Opinião | Convergente, de Veronica Roth


Titulo Original: Allegiant
Ano: 2013
Editor(a):  Porto Editora
Páginas: 416

Reimpressão - Abril 2014
(1.ª Edição a março de 2014)


 Contra-capa:



 Resumo da aba direita:

 A sociedade de fações em que Tris Prior acreditava está destruída – dilacerada por atos de violência e lutas de poder e marcada para sempre pela perda e pela traição. Assim, quando lhe é oferecida a oportunidade de explorar o mundo para além dos limites que conhece, Tris aceita o desafio. Talvez ela e Tobias possam encontrar, do outro lado da barreira, uma vida mais simples, livre de mentiras complicadas, lealdades confusas e memórias dolorosas.

 Mas a nova realidade de Tris é ainda mais assustadora do que a que deixou para trás. As descobertas recentes revelam-se vazias de sentido e a angústia que geram altera as vontades daqueles que mais ama. 

 Uma vez mais, Tris tem de lutar para compreender as complexidades da natureza humana, ao mesmo tempo que enfrenta escolhas impossíveis de coragem, lealdade, sacrifício e amor. 

 Alternando as perspetivas de Tris e Quatro, Convergente encerra de forma poderosa a série que cativou milhões de leitores em todo o mundo, revelando por fim os segredos do universo Divergente.


 Mini-biografia da autora (aba esquerda):

 Estudou Escrita Criativa na Northwestern University. Nos seus tempos de faculdade, preferiu dedicar-se a escrever o que viria a ser a sua primeira obra, Divergente, e deixar de lado os trabalhos de casa – uma escolha que acabou por transformar totalmente a sua vida. Veronica Roth foi considerada a melhor autora pelo GoodReads Choice Awards em 2012. Divergente foi eleito o melhor livro de 2011 e Insurgente o melhor livro de fantasia para jovens-adultos em 2012, pela mesma entidade, a única cujas distinções são atribuídas exclusivamente pelos leitores.


 Opinião

 Aviso: Esta opinião está livre de quaisquer spoilers ou informações adicionais que não os da sinopse do mesmo, mas contém, inevitavelmente, informação sobre os volumes que o antecedem (Divergente e Insurgente), já que Convergente é o último volume de uma trilogia. 

 Bem, o que é que eu posso dizer? Acabou. Ainda não acredito que acabou.

 A trilogia Divergente iniciou de uma forma cativante, narrando uma história cheia de ação e emoções fortes e apresentando-nos um novo mundo completamente fascinante. Insurgente foi uma continuação tensa e dolorosa, talvez difícil de digerir. Convergente... Convergente foi intenso, surpreendente e absolutamente magnífico! E eu não consigo seguir em frente, não consigo parar de dizer a mim mesma que acabou e interiorizar as minhas palavras.

 As fações estão desfeitas e, agora que Evelyn Johnson está no poder, o futuro de Chicago é incerto. O vídeo de Edith Prior foi revelado e está na hora de Tris, Tobias e os seus companheiros partirem. Chegou a hora de descobrir o que há para lá da vedação, descobrir o que está na origem do sistema de fações. E, à medida que as revelações surgem, surgem também as questões: Será que vale a pena? Qual o significado disto tudo? Quem somos? Quem sou? As descobertas não aumentam as certezas, mas sim as dúvidas. Tentando iniciar uma nova vida num mundo desconhecido, Tris e Tobias terão de fazer escolhas (afinal, não é esta uma trilogia sobre escolhas que mudam tudo, que nos moldam, que nos transformam, que nos destroem, que nos definem?). Escolhas dolorosas que, agora mais do que nunca, são decisivas para o seu futuro, para o futuro dos seus e para o futuro do mundo.

 Sendo este um último volume que muito deu que falar entre os leitores - leitores que começaram a adorar a série e que terminaram absolutamente desiludidos, leitores que são da opinião que a série só piora ao longo dos volumes, leitores que se surpreenderam e adoraram o mundo criado por Veronica Roth desde do início até o fim - devia ter começado a sua leitura a medo, receosa do futuro, receosa da desilusão. Em vez disso, surpreendi-me a mim mesma ao iniciar este livro confiante e decidida, sendo cativada logo nas primeiras páginas e tornando-se difícil pousar esta obra. Em vez daquela dose de adrenalina provocada pelas cenas de ação constantes nos dois livros anteriores, este volume é feito de revelações surpreendentes, descobertas inesperadas, imprevistos que me faziam querer ler mais e mais e que, aliados à escrita de Veronica Roth - que não me cansei de elogiar em todas as minhas outras opiniões - me fizeram adorar cada minuto gasto com esta obra. As revelações apanhavam-me desprevenida, abalavam-me, obrigavam-me a refletir por uns segundos e, após esse breve momento de ponderação, voltava a mergulhar na história, ansiosa por descobrir mais.

 Agora com as perspetivas de Tris e Tobias, tudo será posto a nu. Agora, sabemos tudo o que sentem, sentimos o seu sofrimento, sofremos a dor das suas escolhas e o arrependimento. Se a sua relação sofrera inúmeros abalos em Insurgente, agora, crescerá mais do que nunca. Sempre adorei a relação entre estas duas personagens, mas desta vez é diferente. Não é (nunca foi) uma simples história de amor YA, é algo sincero, algo verdadeiro, que cresce à medida que Tris e Tobias crescem. Eles resistem aos obstáculos e aprendem um com o outro, a culpa não os afasta, não enfraquece os seus sentimentos; pelo contrário, só os fortalece e torna-os quem são. Nunca demasiado lamechas ou sempre separados e zangados um com o outro (como fazem muito autores para, supostamente, nos fazer torcer pelas personagens, mas que, em alguns casos, só nos afasta das mesmas), a sua relação nem sempre é perfeita, mas os seus sentimentos são fortes. Não pensem que não passam do instrutor atraente que nunca se abre com ninguém e a Empata magra e fraca com um rosto pouco bonito, embora decidida e corajosa, são humanos e muito mais que esses simples clichés e não se deixem levar pela impressão errada. Juntos são quem são e são mais do que são e é maravilhoso assistir à evolução de algo tão belo, um relacionamento que nunca presenciei em nenhum outro livro Young-Adult. Destacado nos momentos certos ao longo das três obras, contudo, nesta com maior importância, finalmente confirmei as minhas suspeitas: É algo de especial, algo de único. Algo real.

 Tobias foi das personagens que mais me surpreendeu neste livro. Agora que possuímos o seu ponto de vista, temos a oportunidade de finalmente conhecê-lo - a máscara cai, tudo (os seus sentimentos, as suas mágoas, as suas opiniões) é exposto. Talvez seja verdade o que dizem: que Veronica Roth, ao escrever este livro sobre dois pontos de vista, mudou a maneira como o víamos, como nos sentíamos em relação a esta personagem, retirou parte da essência de Quatro, mas, em alguma altura da trilogia, teríamos de saber, teríamos de finalmente compreender tudo aquilo porque passou e que fez dele o que é agora. Ele está diferente neste livro, agora que [pensa que] deixou os seus fantasmas para trás. Mas todos nós cometemos erros, porque errar é humano e não é por termos acertado sempre que agora temos de acertar outra vez. E, de cada vez que ele sofria, dava por mim a sofrer também.

 E Tris... Tris é uma verdadeira guerreira. As experiências dolorosas porque passou mudaram-na, tornaram-na alguém diferente em Insurgente, alguém disposta a fazer sacrifícios estúpidos e a arriscar a sua vida como se ela não fosse tão preciosa como qualquer outra vida. Até ficar cara a cara com a morte e compreender finalmente o valor de respirar, de ter o seu coração a bater e regressa. Volta a ser quem verdadeiramente é, a protagonista de quem sentimos falta, só que mais forte, mais corajosa, mais altruísta.

 E, como muitos de vocês foram, fui vítima daquele spoiler do final. Continuei a série independentemente de o saber ou não, decidida a não deixar o receio apoderar-se de mim. Contudo, mais ou menos a partir da página 300, surgiu um mau pressentimento, vindo do meu instinto (e daquele maldito spoiler) e foi aí que surgiu o medo: Eu não quero acabar. Não quero. Tenho medo. Não quero acabar. - tal e qual uma criança desesperada. Era suposto atrasar o fim, adiar o inevitável e, em vez disso, devorei as últimas páginas com duas vozes contraditórias na minha cabeça, uma gritando para continuar e outra gritando para ser cautelosa. Não dei ouvidos à segunda, pois claro que não dei, agarrei-me ao que me restava desta história fascinante e vi o meu coração desfeito em mil pedaços, fraco e quebrado e, sem pedir, escorreram-me as lágrimas pela face para os lençóis verdes, fazendo pequenas pausas que não duravam nem 3 segundos, até o último capítulo, a última página, o último parágrafo, a última linha. A última palavra. Acabou.

 Tris evoluiu imenso ao longo da trilogia. Tal como está escrito nas contra-capas dos livros, as suas escolhas mudaram-na. Tobias também mudou, evoluiu com as suas escolhas, mas Tris é a protagonista e uma lutadora. Aprendeu o significado de amizade, de lealdade, de coragem, de amor, de altruísmo. Para mim, tudo teve um sentido e tudo foi real.

 Pode ser injusto, mas o mundo não é justo. Talvez não seja aquilo que queríamos, talvez doa, talvez magoe. Divergente pode ainda ser o meu preferido da série, por ser tão leve e tão repleto de emoções fortes, no entanto, reconheço que Convergente consegue superar as obras que o antecedem a todos os níveis. Repleto de surpresas durante grande parte das páginas, doloroso nos últimos longos momentos. Não tão tenso quanto o segundo volume, mas duro. Pode não ser um livro perfeito, mas é o fim perfeito, o fim dado por alguém que me ensinou tanto ao longo dos livros. Esqueçam a realidade bonitinha de Divergente ou a tortura que Insurgente aparenta ser, Convergente existe para nos abalar, para nos quebrar, tal como o sofrimento e o arrependimento quebrou as personagens. Não é esta afinal uma história sobre a essência humana? Não é uma história sobre uma sociedade distópica em decadência, ou a história de amor de duas pessoas que nada têm em comum para além de tudo, ou uma aventura emocionante cheia de adrenalina. Ou, pelo menos, não é só isso. Talvez não agrade a todos, não foi feito para agradar, mas, como a própria autora o disse, um fim que agradasse a todos seria algo impossível de concretizar. Veronica deslumbrou-me de uma maneira que ainda está para lá da minha compreensão. Criou este mundo fascinante, esta realidade que não é perfeita, esta realidade que é dura. Esta realidade repleta de ensinamentos, repleta de morais, repleta de sentimentos e de emoções.

 Convergente marcou-me e não se devem levar pelas opiniões de outrem sem viverem a vossa própria experiência. Esqueçam os spoilers, pois eles não fazem a obra no seu todo, nem atribuem ao livro o seu verdadeiro significado; esqueçam as opinião negativas ou super-positivas, porque elas não são a vossa opinião, mesmo que seja a de alguém com quem partilham gostos semelhantes. Ver para querer, é o que dizem e, se querem a minha opinião, façam o mesmo. Quem disse que não vale a pena? Só vocês o poderão provar.

 E, se tiverem dificuldade em digerir tudo isto, leiam o que a autora tem para dizer: About the End of Allegiant.

 E eu entendo. E também estou orgulhosa.





Citações Favoritas:

  •   Pergunto-me se os medos vão realmente embora ou se apenas perdem poder sobre nós.  [Tris] (Pág. 29)
  •  Ao eliminar-mos as memórias de uma pessoa, mudamos quem ela é.  [Tobias] (Pág. 85)
  •  - Sabes o que a mãe me disse uma vez? - pergunta Caleb (...). Disse que toda a gente tem algum mal dentro de si e o primeiro passo para amar alguém é reconhecer o mesmo mal em nós mesmos, para sermos capazes de perdoar.  (Pág. 220)
  •  É estranho como o tempo pode fazer um lugar encolher, tornar normal a sua estranheza. [Tris] (Pág. 298)
  •  (...) quando uma pessoa faz mal a outra, partilham ambas o fardo desse erro - a dor pesa sobre as duas.  [Tris] (Pág. 315)
  •  E eu sei, sem ninguém precisar de me dizer, que isto é o que o amor faz quando está certo - faz de nós mais do que somos, mais do que pensávamos que podíamos ser.  [Tris] (Pág. 318)
  •  Às vezes, tudo o que é preciso para salvar as pessoas de um destino terrível é alguém disposto a fazer algo acerca disso.  [Tobias] (Pág. 337)
  •  - Sim, por vezes a vida é realmente uma treta - diz. - Mas sabes o que alimenta a minha esperança? - Arqueio as sobrancelhas. (...) - Os momentos em que não é - conclui. - O truque é reconhecê-los quando aparecem.  [Christina a Tobias] (Pág. 410) 


4 comentários:

  1. Também fui vitima do spoiler e, embora tenha arruinado um pouco a minha experiência, ainda bem que decidi ler o livro. Eu sou uma das pessoas que foi deixando de gostar da série ao longo dos volumes (infelizmente). Nem sabia desse post da Veronica Roth, vou ler.
    Ainda bem que gostaste!
    Gostei muito de ler a tua opinião.
    Beijinhos

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    1. Gostei mais do "Divergente" do que dos restantes, mas ainda assim sou da opinião que a série deixou muito pouco a desejar.
      Fico feliz em saber! :)
      Beijinhos!

      *Mistery

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  2. Olá :)

    Fico muito contente que tenhas gostado! Também adorei a trilogia, e o "Convergente" é, de facto, arrebatador. Até me deste vontade e ir reler a minha opinião! :)
    Não sofri de nenhum spoiler felizmente :), por isso vivi todos os acontecimentos como uma valente surpresa e sim, também foram caindo as lágrimas ... E o fim, fez TODO o sentido!

    Beijinhos,
    Rosana

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    1. Olá, Rosana! :)
      Acho que não li nenhuma das tuas opiniões da trilogia. Vou dar uma olhada. ;)
      Penso que, se não tivesse tido apanhado aquele spoiler, iria suspeitar dos acontecimentos futuros e provavelmente ficaria esperançosa de que as minhas previsões não se realizassem. Penso muitos vezes como teria sido se tivesse partido para a leitura como tu, sem fazer a mínima ideia.
      Beijinhos!

      *Mistery

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