segunda-feira, 13 de julho de 2015

Opinião | Os Aromas do Amor, de Dorothy Koomson


Titulo Original: The Flavours of Love
Ano: 2013
Editor(a):  Porto Editora
Páginas: 472

1.ª Edição - Maio 2014


 Sinopse da contra-capa:

 Procuro a combinação perfeita de aromas; o sabor que eras tu. Se o encontrar, sei que voltarás para mim.

Passaram-se 18 meses desde a morte de Joel, o marido de Saffron, e o culpado nunca foi descoberto. 

Agora, fazendo os possíveis para lidar com a perda, Saffron decide terminar Os Aromas do Amor, o livro de receitas que Joel tinha começado a escrever antes da sua trágica morte. 

Quando, finalmente, tudo parece ter voltado à normalidade, a filha de 14 anos de Saffron faz uma revelação chocante que abala a relação entre ambas. E, ao mesmo tempo, cartas misteriosas lançam uma nova luz sobre a morte de Joel.

Será um grande amor capaz de sobreviver à maior das perdas?


 Mini-biografia da autora (aba esquerda):

Apaixonada desde sempre pela palavra escrita, Dorothy Koomson escreveu o seu primeiro romance aos 13 anos. A Filha da Minha Melhor Amiga foi o seu primeiro livro editado em Portugal. A história comovente de duas amigas separadas pela mentira e unidas por uma criança encantou as leitoras portuguesas.
 Pedaços de Ternura, Bons Sonhos, Meu amor, O Amor Está no Ar, Um Erro Inocente, Amor e ChocolateO Outro Amor da Vida Dele e A Praia das Pétalas de Rosa foram igualmente bem-sucedidos, consagrando a autora como uma das grandes referências para os leitores.

Descubra mais sobre a autora em:
www.dorothykoomson.co.uk
www.facebook.com/dorothykoomsonportugal


 Opinião

 Aviso: Esta opinião contém spoilers sugestivos, mas que, na minha opinião, não estragarão a leitura nem as surpresas que esta vos reserva. 

 Ler um livro desta autora é sempre um prazer. E ler este livro poderia ter sido um prazer ainda maior.

 Dorothy Koomson escreve sobre temas fortes e sobre temas atuais sem tornar a leitura demasiado pesada ou demasiado leve e a maneira como os aborda e as lições valiosas que os seus livros me transmitiram tornaram-na a minha escritora favorita. Fala de doenças terminais, dos crimes sexuais, da traição, do alcoolismo, da perda de um ente querido. No entanto, o que realmente torna Dorothy Koomson a minha autora de eleição é como ela descreve as relações entre os seres humanos. Fala sobre a verdadeira amizade, sobre o amor e sobre confiança, sobretudo sobre confiança e o que estamos a dispostos a fazer por alguém que é importante para nós. É a maneira como ela explora o ser humano e como este interage e se relaciona que me faz querer ler uma das suas obras. Ela coloca-nos no papel da protagonista e, sem dar-mos por isso, estamos na mesma situação que ela, vivemos as suas mágoas e inevitavelmente questionamo-nos: O que faria eu no seu lugar?

 Em Os Aromas do Amor, para além da perda e da amizade, estão presentes a gravidez na adolescência e os distúrbios alimentares.

 Saffron vive uma vida feliz ao lado do homem que ama e dos filhos Phoebe e Zane. Aquele dia nada diferenciava de todos os outros dias e, no entanto, foi naquele dia que bateram à porta da casa dos Mackleroy e revelaram a Saffron que nunca mais veria o marido novamente.
 Agora, 18 meses após o assassínio de Joel, que nunca chegou a ser resolvido, Saffron não está mais perto de superar a perda. Antes de falecer, o amor da sua vida encontrava-se a escrever Os Aromas do Amor, o livro de receitas que seria o reflexo da sua paixão pela culinária. Saffron tem procurado a combinação de sabores que trarão o marido de volta, mas até agora sem sucesso. A sua relação com a filha mais velha há muito que deixou de ser a mesma. Phoebe, agora com 14 anos, descobre que está grávida. Esta revelação irá abalar ainda mais os alicerces de uma família que, com o tempo, se foi gradualmente afastando. Culpando-se por todos os acontecimentos que agora inquietam a sua vida, Saffron tem de encontrar uma maneira de corrigir os seus erros e desinfetar a ferida que surgiu à um ano e meio atrás. E arranjar forma de lidar com as cartas perturbadoras que agora lhe são enviadas e que colocam Saffron e aqueles que ama em perigo.

 Como referi há alguns parágrafos atrás, Dorothy Koomson tem uma capacidade incrível de nos fazer sentir na pele os sentimentos e emoções vivenciados pelas suas protagonistas, através da sua escrita única e bela, e este livro não foi exceção. Normalmente mergulho nas suas palavras e deixo-me levar pela leitura das suas obras, mas preferi levar esta com calma, devagarinho, passinhos de bebé, para puder desfrutar inteiramente dela. Isto porque este ano, apesar de já ter encontrado novos favoritos e me deparado com tantas outras surpresas, não tem sido muito produtivo: poucos livros, leituras muito curtas e ainda alguns desilusões que só me comeram tempo. Não queria iniciar esta leitura confiante, porque esse já é meio caminho andado para uma decepção, mas, por outro lado, era Dorothy Koomson, o que podia correr mal?

 Entenda-se desde já que eu gostei imenso deste livro. Mas preferia ter gostado ainda mais. O problema, contudo, não foi da autora, ou sequer da própria história. Eu é que queria algo diferente. 
 Saffron nunca conseguiu, apesar dos meses que passaram, ultrapassar a morte de Joel ou encontrar alguma estabilidade. A sua vida, quer familiar quer profissional, está em decadência. E agora que os seus filhos se encontram ameaçados pelas verdades reveladas na sinistra correspondência que tem vindo a receber, Saffron tem de lutar contra as suas fraquezas e proteger aqueles que mais ama, que tanto sofrimento já sentiram, qualquer que seja o custo. As lutas desta mulher, motivadas pelo amor incondicional de uma mãe, ora me despertavam compaixão ora me inspiravam, porque é realmente difícil manter-nos de pé quando há tanta coisa que nos ameaça deitar abaixo. Saffron nem sempre se manterá de pé, porque é humana e inclusive somos espectadores das inúmeras vezes em que cede à dor e à pressão que a vida exerce. Agradou-me a sua evolução e como maneira como conseguiu sair da sua situação já não tão fraca, mas a mulher que precisava de ser.

 Gostei imenso de Fynn e da maneira como a sua relação com Saffron foi explorada. Contudo, senti alguma falta de momentos do passado, analepses que nos dessem a conhecer melhor a amizade de Fynn e Joel e que falassem mais detalhadamente da relação entre Joel e Saffron após se conhecerem (tinha expectativas que o passado fosse mais destacado porque é comum acontecer na maioria dos livros da escritora). O livro de receitas de Joel, Os Aromas do Amor, não teve tanto impacto na história como poderia e gostaria. Todavia, embora esses aspetos tivessem prejudicado ligeiramente a minha opinião, também não foi isso que me estragou a leitura.

 O que realmente me fez não gostar tanto deste livro como poderia foi Phoebe, a filha de Saffron. Encontro sempre uma personagem nova para detestar nos livros da autora, mas quando essa personagem é a filha da protagonista é inevitável que tal tenha um certo impacto na leitura. O desprezo com que tratava a mãe, que não tinha qualquer razão de ser, enervou-me tanto! Não há justificação alguma para o comportamento dela com Saffron, que tantos problemas teve de enfrentar e tantos sacrifícios fez pela filha ingrata. Prefiro pensar, e realmente espero que um dia, se chegar a ter filhos, nunca terei de lhes levantar a mão, mas eu perdi a conta das vezes que desejei entrar no livro, não como Saffron, mas como eu mesma, para lhe pregar o par de estalos [desculpem-me os termos, mas não há outra maneira de pôr as coisas]. Já para não falar das atitudes dela em relação à gravidez, como se estivesse à espera que o problema se evaporasse sem qualquer intervenção humana. Aquilo não eram as hormonas da adolescência, mas uma falta de educação e maturidade de todo o tamanho!

 Existe ainda aquele mistério que se vai arrastando ao longo das páginas, recebendo peças inteiras do puzzle que só realmente fazem todo o sentido no final: quem matou Joel e o motivo, o porquê das cartas, porque está Phoebe envolvida e porque razão é necessário protegê-la. Um enigma pouco complexo que adiciona à leitura o condimento  necessário para a história nos cativar por completo. O enigma e a tia Betty, que é impossível não adorar! Por detrás de todas aquelas perucas e maquilhagem, está uma mulher que também já viveu as mágoas que a vida tem reservadas para nós e também ela nos passa alguns ensinamentos.

 Os Aromas do Amor não é o melhor romance de Dorothy Koomson, nem um dos meus favoritos da autora, mas ler os seus livros são sempre um prazer. Gostei imenso de acompanhar as lutas diárias de Saffron e de assistir ao seu crescimento e apercebo-me agora (já devia me devia ter apercebido disso há muito tempo) de que, quando chegar a hora de ler O Outro Amor da Vida Dele e Os Muitos Nomes do Amor, não devo iniciar a sua leitura com uma ideia pré-concebida do que será a história.








Citações Favoritas:

  •  (...) permiti-me esquecer que a vida de uma pessoa pode ser devastada por um capricho do vento, uma mudança de ideias, uma intenção amiga com resultados catastróficos. A vida pode mudar, mesmo diante dos nossos olhos, por não repararmos no corte mais ínfimo numa artéria principal.  [Saffron]  (Pág. 13)
  •  Os monstros existem. São bem reais.  [Saffron]  (Pág. 79)
  •  A dor não desaparece, mas torna-se mais fácil viver com ela. Deixa de ser algo que ameaça consumir-nos a qualquer momento, dia após dia. Atenua-se um pouco.  [Fynn]  (Pág. 83)
  •  Chorava e chorava quando estava sozinha, quando não tinha mais nada para ocupar o meu tempo, a cabeça, chorava sem parar para tentar libertar-me. E, no entanto, nada tinha mudado. Continuava acorrentada a este precipício de dor, bem acima do mundo em que costumava viver, sem forma de descer, sem saída. (...) Chorava e chorava até não poder mais para me libertar da dor, mas continuava acorrentada a ela.  [Saffron]  (Pág. 145)
  •  (...) a maior perda, quando nos morre alguém querido, é a perda da nossa própria identidade.  [Tia Betty]  (Pág. 281)

2 comentários:

  1. Até hoje só li dois livros dessa autora "Bons sonhos, Meu amor" de que não gostei e "A Filha da Minha Melhor Amiga" que amei. Até agora não tive coragem de pegar em mais nenhum.
    www.fofocas-literarias.blogspot.pt

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    1. Se tiveres oportunidade de ler "Amor e Chocolate", lê, porque tenho um feeling de que eras capaz de gostar. É bastante mais leve do que esses dois, super-engraçado e o casal da história é algo de especial. Os outros (somente à exceção de um outro), como escrevi aqui na opinião, abordam temas pesados, mas realmente adoro a maneira como a autora escreve sobre o amor e a amizade e, pelas tuas opiniões sobre os livros que lês, concluo que há uma possibilidade de gostares deste. :)
      Beijinhos!

      *Mistery

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