quinta-feira, 2 de abril de 2015

Opinião | Jane Eyre, de Charlotte Brontë


Titulo Original: Jane Eyre
Ano: 1847
Editor(a):  Editorial Presença
Páginas: 596

1.ª Edição - Março 2011


 Resumo da contra-capa:

 Jane Eyre é uma obra-prima da literatura inglesa, a autobiografia ficcionada de uma jovem que, depois de uma infância e adolescência desprovidas de afecto, se torna preceptora em Thornfield Hall e se apaixona pelo seu proprietário, Mr. Rochester. Plenamente correspondida nos seus sentimentos, Jane julga ter encontrado o amor por que ansiara toda a vida, mas Thornfield Hall esconde um segredo tenebroso que ameaça ensombrar a sua felicidade. Numa atmosfera misteriosa e inesquecível, acompanhamos esta heroína de espírito puro e apaixonado, que se recusa a aceitar o lugar que a sociedade lhe reservou e trava uma luta interior constante para se manter fiel à suas convicções e a si própria. Considerado muito à frente do seu tempo, este romance eleva-se à esfera da genialidade pela forma soberba como retrata a sociedade da época, pela inteligência e originalidade da prosa, pela intensidade emocional que impregna cada uma das suas páginas. Jane Eyre tem agora uma nova versão cinematográfica, com Mia Wasikowska, Michael Fassbender e Judi Dench nos principais papéis.


 Mini-biografia da autora (aba esquerda):


 Charlotte Brontë nasceu em Thornton, Yorkshire, em 1816. Jane Eyre foi publicado em 1847 sob o pseudónimo de Currer Bell e alcançou um sucesso imediato. Charlotte escreveu três outros romances e também poesia, tendo-se tornado, a par das irmãs, Emily e Anne, uma das figuras mais importantes da literatura inglesa do século XIX.


 Opinião

 É sempre difícil (pelo menos, para mim) começar a opinião de livros como Jane Eyre - livros que exigem tanto de nós durante a sua leitura e que exigem tanto de nós mesmo depois de os ter-mos terminado. Neste momento, os meus pensamentos encontram-se espalhados por vários recantos da minha mente, porém, vejo-me obrigada a ordená-los, pois não há nada que, após o fim desta leitura, me desse mais prazer que falar desta obra maravilhosa.

 Jane Eyre, a primeira obra de Charlotte Brontë, inicialmente publicada sobre o pseudónimo de Currer Bell, é também o nome da protagonista desta história. Na verdade, as páginas deste livro contêm a sua autobiografia, escrita e narrada pela mesma e retirada da imaginação da mais velha das irmãs Brontë. Jane teve uma infância cruel e uma adolescência dura e, tal como está escrito na sinopse deste livro, desprovidas de afeto e amor. Tomamos conhecimento dos momentos mais importantes destas duas fases da sua vida, mas a que recebe mais destaque é aquela que começa quando Jane toma uma importante decisão que irá alterar por completo o rumo da sua vida, acabando por se tornar precetora em Thornfield Hall, uma mansão cujo proprietário é Mister Rochester. Lá, Jane irá conhecer sentimentos como os da amizade, da mágoa, da tristeza, do desgosto, do amor, que irão ser afetados pelos eventos da sombria Thornfield, que esconde um segredo que Jane está determinada a desvendar. E a partir daqui não digo mais nada, ou estrago-vos 594 páginas de puro deleite.

 O livro foi originalmente publicado como Jane Eyre, no entanto, a edição portuguesa mais conhecida teve o nome de A Paixão de Jane Eyre e eu prefiro, de longe, o nome original. Sim, Jane Eyre é uma história de amor, contudo, é também muito mais que isso. Nesta obra, somos presenteados com longos capítulos narrados por uma escrita não muito complicada, comparada com a escrita de outros autores de clássicos, mas que também não é propriamente muito fácil. Mas não foram as frases longas que me fizeram repetir mais do que uma vez a mesma frase, o mesmo parágrafo, a mesma expressão. A complexidade de Jane Eyre reside na forma como Charlotte Brontë nos transmite os sentimentos da protagonista, ao ponto de nos fazer sentir o mesmo que ela; nos descreve os belos cenários naturais, ao ponto de nos transportar para onde quer que a protagonista se encontra. Todavia, Jane Eyre é o ponto mais alto de toda a obra, e é nela que se centra as maiores qualidades da mesma. Esta heroína (pois ela é isso mesmo, uma autêntica heroína!) é sensata, é honesta, destemida e abnegada, luta por aquilo que quer; quando vê os seus sentimentos em conflito com os seus princípios, luta contra eles para ver a razão permanecer, devido ao  receio de que o que sente possa não ir de acordo com o que defende, acabando por aprender muito com as suas ações. E, mesmo nas circunstâncias mais adversas, mesmo quando acaba inevitavelmente por ir abaixo, levanta-se novamente, com uma força digna de admiração. Tal como escrito na sinopse de A Paixão de Jane Eyre, esta obra atraiu de imediato a atenção do público da época e dividiu a crítica. Habituada às heroínas de Jane Austen, que pareciam conhecer exactamente o seu lugar na sociedade, a sociedade britânica sentiu-se desconfortável com o personagem feminino criado por Charlotte Brontë: embora as acções de Jane observem o código convencional de comportamento feminino, deixam transparecer também uma poderosa declaração de independência das mulheres. Deixei-me inspirar inúmeras vezes por esta protagonista, fiz da sua voz minha e deixei-me deslizar pelas páginas deste livro, completamente cativada e, ao mesmo tempo, encantada e deslumbrada. A história presente neste livro não é só a sua história de amor, é, no seu todo, a sua história de vida, uma história de vida apaixonante, a história de vida de alguém que nunca, nunca desistiu, que vai crescendo ao longo das páginas, até se tornar na mulher que, no final, conhecemos. E foi por isso que ganhou, tão merecidamente, o lugar de destaque de entre as minha protagonistas femininas preferidas. Jane é a personagem que procuramos em todas as  nossas leituras e, agora que a encontrei, não podia sentir-me mais satisfeita.

 A crítica à sociedade daquele tempo também está presente, ou não fosse este um clássico da literatura inglesa. Os contrastes entre ricos e pobres, entre poderosos e pouco influentes são bem visíveis. Apesar da sua humildade, Jane não se considera inferior a ninguém, muito menos superior, é dotada de um espírito de igualdade para com todos e exige ser tratada de acordo com esse principio. Ainda hoje, na sociedade supostamente moderna, não encontramos um espírito assim, verdadeiramente empenhado em defender as suas convicções e valores. Temos ainda os temas religiosos, presentes ao longo de toda a obra. A fé de Jane é incontestável, apoiando muitas vezes as suas forças em Deus nos momentos mais difíceis, nunca deixando, nem por um segundo, enquanto vive o pior, de acreditar Nele. Mas foi a de Helen Burns, aquela doce rapariga, que mais me comoveu. Algumas pessoas não são grandes apreciadoras de religião em livros. Neste livro, a fé no Cristianismo está bem presente, em inúmeras páginas e, apesar de não me poder considerar dotada da mesma convicção de Jane, Helen, e outros, a força com que as personagens se ligavam à sua crença ao Senhor e encontram nela a sua própria força de viver inspirou-me.

 A acrescentar, falo da originalidade da narrativa, do enredo cativante e das tão bem construídas personagens. Jane faz-nos o favor de observar e descrever os seus comportamentos que, associados aos diálogos, as tornaram mais reais a meus olhos. Elas surpreendem-nos e desiludem-nos e quase nenhuma (talvez mesmo nenhuma) não chega a despertar-nos um destes sentimentos. Todas elas tiveram impacto, quer positivo, quer negativo, quer ambos, tornando-as verdadeiras.

 Não podia, ou seria falta de honestidade da minha parte, deixar de mencionar o seguinte: iniciei este livro em inícios de janeiro e só o terminei no último dia de março. No entanto, para não pensarem que são só tretas quando falo que o tamanho dos capítulos raramente importa, fala-vos da época de aulas, quando iniciei este livro, e que fizeram com que os estudos se metessem entre mim e Jane Eyre. Vi-me feliz da vida com a chegada das férias, acreditem, quando pude finalmente devorar a restante metade deste clássico. A capa simples e monótona deste livro não era lá muito do meu agrado, mas as suas cores murchas e vazias conferiram-me maior simplicidade de estado de espírito enquanto a lia (tenho a estranha tendência de associar as cores da capa às emoções que a leitura nos transmite, à história e, já que esta é repleta de emoções fortes e esta edição é baseada em tons cinza, acabou por resultar num excelente contraste), o que acabou por fazer com que ganhasse apreço por esta minha cópia.

 É bem evidente que só tenho elogios a tecer a esta obra e deixo com eles a recomendação. Lembrem-se que os livros não nascem clássicos: nascem romance, nascem policial, nascem distopia ou ficção científica. O que os torna clássicos é o tempo, que tem a capacidade de mudar tudo, ou quase tudo, mas não estas obras - elas mantêm-se intemporais e são apreciadas em qualquer época, em qualquer lugar e são dotadas de algo especial, que as torna diferentes de qualquer outro livro (sem exceção, incluindo os seus colegas de época). Preferi não falar muito da história de amor, pois vejo este livro como muito mais que isso, e porque não vos quero, de todo, estragar a surpresa (Mas é linda, gente, é linda!).

 A Rosamund (...) considerava-me (...) generosa, inteligente, composta e decidida (...), e estava certa de que o meu passado daria um esplêndido romance.

 Oh, Miss Oliver! Não podia estar mais certa!







Citações Favoritas:

  •   A aparência não pode ser confundida com a verdade.  [Charlotte Brontë/Currer Bell no Prefácio da 2.ª edição original]
  •  Fora a primeira vez que provara algo semelhante à vingança. Ao engoli-la, parecera-me tratar-se de um vinho aromático, quente e forte; contudo, deixara-me um travo amargo e cáustico na boca, dando-me a sensação de que acabara de ser envenenada.  [Jane Eyre]
  •  Não vale a pena dizer que os seres humanos se deveriam contentar com a tranquilidade, pois eles necessitam de ação e, se não for ela a vir ter com eles, serão eles a ir a seu encontro. [Jane Eyre]
  •  De cada vez que se sentir tentada a errar, Miss Eyre, lembre-se dos remorsos; os remorsos envenenam-nos a vida. [Mr. Rochester].
  •  A sensibilidade desprovida de discernimento é sem dúvida uma bebida desenxabida, mas também não deixa de ser verdade que o discernimento desprovido de sensibilidade é demasiado duro e amargo para a deglutição humana. [Jane Eyre]
  •  (...) não há felicidade que se compare a sentirmos que somos amados pelos nossos semelhantes e que a nossa presença é para eles uma fonte de conforto. [Jane Eyre]


 Trailer do filme (pode conter spoilers):



4 comentários:

  1. Jane Eyre é dos meus clássicos preferidos e preciso (urgentemente) de o reler. Já viste a mini-série da BBC?
    Adoro a mini-série mas odeio o filme :/

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    1. Entrou igualmente para a minha lista de destaque. É fenomenal! Também gostaria de o reler um dia.
      Não, ainda não vi, comecei a ver o filme mais recente, mas não o terminei.
      Beijinhos!

      *Mistery

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  2. Gostei muito de ler a tua opinião. Ainda bem que voltaste à blogosfera. Já te estou a seguir :)
    Já tinha ouvido falar deste livro e estou super curiosa com ele.

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    1. Fico contente por saber! :)
      Não tinha escutado tantas opiniões desta obra, comprei-a devido a uma promoção. Mas ainda bem que o fiz, porque acabei agradavelmente surpreendida.
      Beijinhos e Boas Leituras!

      *Mistery

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