domingo, 15 de março de 2015

Opinião | Resgate, de Danielle Steel


Titulo Original: Ransom
Ano: 2004
Editor(a):  Bertrand Editora
Páginas: 312

1.ª Edição - Novembro 2012

Wook  | Goodreads 

 Resumo da contra-capa:

 Um crime violento junta a vida de quatro pessoas neste livro de Danielle Steel, a autora mais lida do mundo. 

 Peter Morgan é libertado da prisão depois de quatro longos anos e muitos votos para se redimir. Ao mesmo tempo, Carl Waters, um homicida, também é posto em liberdade. Nessa noite, a muitos quilómetros de distância destes acontecimentos, o inspetor da polícia Ted Lee chega a casa e encontra-a vazia. Durante vinte e nove anos, viveu para o seu trabalho e, gradualmente, foi-se afastando da mulher. Agora está sozinho. Do outro lado da cidade, uma mãe procura proteger os três filhos do pânico que cresce dentro dela. Quatro meses passados desde a morte do marido, Fernanda Barnes enfrenta uma montanha de dívidas que não consegue pagar, um mundo destruído, um casamento perdido.

 No intervalo de algumas semanas, a vida dos quatro vai cruzar-se de maneiras inesperadas. Para Fernanda, habituada a viver em belas casas, com segurança, sucesso e riqueza, a morte do marido já fora um golpe duro de mais. Mas um crime arrasador vem abalar a sua família e trazer para a sua vida o inspetor Ted Lee. Homem de uma integridade inabalável, Lee não tarda a transformar-se na pessoa que tenta salvar a família de Fernanda de um destino terrível.

 Danielle Steel explora de forma brilhante os efeitos do crime no quotidiano das suas vítimas num romance que nos cativa do princípio ao fim.


 Mini-biografia da autora (wook.pt):

Escritora norte-americana, nascida em 1949, em Nova Iorque, autora de best-sellers no seu país e no estrangeiro. Escreve livros sobre dramas da realidade quotidiana ligados essencialmente ao amor, às relações conturbadas, à traição, à separação e ao sofrimento, mas com o sempre desejado desenlace feliz. Escreveu o seu primeiro livro em 1973, Going Home, mas só em 1978 alcançou a fama com The Promise, que se tornou um best-seller. A partir dessa altura, foi a consagração do seu reconhecimento como uma das grandes escritoras norte-americanas. As suas obras são best-sellers em mais de 45 países. Para além de literatura para adultos, escreveu também livros para crianças. Mãe de nove filhos, interessa-se pelo bem-estar das crianças em geral, participando com porta-voz da American Humane Association (AHA). Mais de vinte obras suas foram adaptadas a séries e filmes televisivos. Fazem parte do vasto conjunto das suas obras os seguintes títulos: "Family Album" (1985, "Álbum de Família"), "Jewels" (1992, "Jóias"), "Accident" (1994), "The Ranch" (1997, "O Rancho"), "Granny Dan" (1999, "A Avó Dan"), "The Wedding" (2000), "The Kiss" (2001) e "Sunset in St. Tropez" (2002).


 Opinião

  Não me encontrava propriamente ansiosa para ler o meu primeiro livro de Danielle Steel, mas devido a algumas coisas que fui encontrando durante a leitura acabei por criar um bocadinho mais de expectativas que não foram exatamente cumpridas.

 A fortuna de Allan Barnes teve grande impacto para a família Barnes. Para a mulher, Fernanda, tornar-se milionária foi um dos maiores testes à sua humildade. Durante dois anos, Fernanda e os seus filhos viveram com conforto e luxo, sem que nada lhes faltasse, enquanto o marido e pai viajava por todo o lugar fazendo diversos investimentos e aumentando cada vez mais as somas extraordinárias. Mas um dia uma peça do dominó cai e outras seguem o seu exemplo, caindo uma a seguir a outra, acumulando-se cada vez mais dívidas e perdendo cada vez mais dinheiro, até Allan se aperceber que iria perder toda a sua riqueza. Encontrando-se numa situação de extremo desespero, escolhe o caminho mais fácil, suicidando-se, deixando os filhos a enfrentar a morte de um pai e Fernanda com a responsabilidade sobre inúmeras obrigações económicas.

 Quatro meses após a tragédia com grande parte da história omitida da imprensa, Peter Morgan e Carlton Waters saiem de Pelican Bay, uma prisão de alta segurança construída para os maiores e piores criminosos. Waters assassinara uma família quando ainda era menor, juntamente com um cúmplice, enquanto Morgan, um homem com estudos que acabou por tomar as decisões erradas, foi preso por tráfico de droga e enviado para uma prisão para criminosos que não correspondem ao seu perfil. Tudo o que quer agora é corrigir os seus males, arranjar emprego e tornar-se um homem digno de reaver as filhas. No entanto, deixou atrás de si muitos assuntos por resolver quando foi preso há quatro anos atrás e não será assim tão fácil redimir-se de tudo o que fez.

 Já Ted Lee não sente nenhuma mudança na sua vida. Um polícia integro e honesto que adora o seu trabalho e que há anos se encontra casado com uma mulher que quase nada tem em comum consigo. Ambos têm vidas diferentes, amigos diferentes, horários diferentes e tal levou ao seu afastamento gradual ao longo dos anos, permanecendo apenas ligados pela promessa que fizeram à quase trinta anos atrás. Ted permanece fiel a Shirley. Contudo, não são raras as vezes em que chega a casa sem ninguém ou alguém acordado e há medida que tal se torna mais frequente vai-se apercebendo o que perdeu, o que tem perdido e o que não quer admitir - que permanece leal a um casamento falhado que já deu tudo o que tinha a dar.

 E, apesar de Danielle Steel ligar estas quatro personagens neste romance policial, ele gira, essencialmente, à volta de Fernanda, que a autora descreve constantemente como mãe dedicada e atenciosa que tudo é capaz de fazer pelos filhos e que os protege a todo o custo da avalanche que o seu pai desencadeou.

 Para iniciar esta opinião, começo por falar da escrita de Danielle Steel. Talvez seja mesmo a maneira como escreve as suas obras que a tornam uma das autoras mais lida em todo o mundo. É com um estilo formal que a escritora vai desenvolvendo a sua história, escrita na terceira pessoa, usando certas expressões que, por vezes, me fizeram ter a sensação de que estava numa sala escutando um político ou outra pessoa qualquer com estudos e um bom vocabulário a narrar uma história. Não me interpretem mal, o vocabulário não é tão complexo quanto isso, nem nego a importância que o conhecimento sobre as palavras tem na escrita de uma obra, porém, não pude deixar de sentir, por vezes, aquela estranha e [não assim tão] excessiva formalidade. Nesta obra, senti-me como você e não tu (algo a que não estou propriamente habituada). Cada escritor tem a sua maneira de comunicar com o leitor e a de Danielle Steel não me agradou. Achei-a também bastante repetitiva, reforçando a mesma ideia mais vezes do que o necessário e repetindo constantemente aquilo que penso que o leitor já teria bem situado na mente. Cheguei à conclusão de que prefiro um livro escrito de forma distinta, criativa, com particularidades que permitam o leitor identificar imediatamente o autor da obra, uma narrativa escrita informalmente e de forma descontraída. Todavia, e como já em cima referi, é, muito provavelmente, ao seu estilo de escrita que se deve o sucesso de Danielle Steel. Um leitor, pode, por vezes, ser bastante difícil de agradar e a simplicidade é bastante útil nesse aspeto.

 Sendo Fernanda o verdadeiro centro da história, não podia deixar de falar dela. Esta protagonista é-nos apresentada deprimida, numa altura extremamente difícil da sua vida. Ora, tal começo dificultou a minha relação com a personagem. É bem evidente o trabalho que a autora teve para reforçar a ideia de que era uma mãe extraordinária, uma mulher bastante forte e de um amor incondicional pelos filhos, mas, por mais provas que esta personagem nos tenha dado, nunca me chegou a convencer totalmente. Para mim, as constantes saídas com os filhos, nunca sair de casa sem eles, as demonstrações de afeto e as lágrimas contidas não foram suficientes. Para eu sentir realmente algo por Fernanda, aquela admiração que muitos homens ao longo da história vão adquirindo (é incrível como uma viúva de luto arranja tantos pretendentes), precisava de ver mais desenvolvimento, por exemplo, dos filhos. Têm boas bases, mas Sam era um miúdo que, apesar de adorável e de ter conquistado a minha simpatia, era demasiado inteligente para a idade; Ashley não teve qualquer demonstração significativa da sua personalidade, para além de ser a típica adolescente romântica que adora conversar com as amigas ao telemóvel e pratica ballet; e Will continuou a ser o filho perfeito, de excelentes notas, atleta, que assume o papel de homem da família, que tanto apoio dá à mãe e que não mostrou qualquer defeito. Filhos simples e filhos perfeitos e adoráveis, mas foram as saídas ao centro comercial com Fernanda, as horas gastas em casa a cuidar deles que os fizeram assim? Este foi um dos motivos que me fez colocar em causa a credibilidade desta relação e que, consequentemente, fez com que não me ligasse à personagem principal. Quando algo é demasiado perfeito, a minha tendência é desconfiar. Não digo que não exista nenhuma Fernanda por aí, mas, se houver, de certeza que seria a prova de que era preciso mais do que o usado neste livro para provar a excelência de Fernanda como mãe.

 Já só por si o título nos conta muito sobre a história. Ela é um pouco previsível do início ao fim. Envolve as típicas personagens más, as típicas personagens boas e aquelas que todos querem conhecer, como Peter Morgan. A sua história tocou-me e tal personagem merecia um maior desenvolvimento, mais minutos de fama, mais impacto. Tinha tanto para dar e esperava que que realmente o desse. Neste aspeto, a autora desiludiu-me, e a justificação para isso encontra-se no parágrafo seguinte (que será relativo a um spoiler, pelo que o facto de o lerem ou não é a vossa decisão e da vossa responsabilidade)...

 [Spoiler ON] ...Morgan nunca teve realmente tempo de se encontrar com as filhas e mostrar-lhes como, mesmo após as decisões erradas, foi capaz de dar tanto de si para fazer o correto. Esperava que elas tivessem a oportunidade de se orgulhar do pai ausente, para que a verdadeira justiça sobre Peter fosse feita. Como é que a autora foi insensível ao ponto de não o fazer? Será que não se lembrou? Não achou importante? Pergunto-me se terá apenas criado esta personagem como um exemplo ou para que tudo se resolvesse e para que a história tivesse um final feliz. É demais óbvio, desde o início, que terá e pergunto-me agora se não foi para isso que Peter Morgan foi criado. Se assim foi, a escritora, a meu ver, gastou 12 páginas de um primeiro capítulo a contar-nos a história detsa personagem. Se as tivesse deixado em branco, sempre teria sido bem melhor, em vez de, sem dó nem piedade, lhe negar o que era seu por direito: o devido reconhecimento pelos seus atos. Sacrificar umas personagens para que outras possam ter o seu final feliz. Esperava mais gratidão por parte dessas últimas. [Spoiler OFF]

 Houveram também alguns aspetos que, com o avanço da história, foram perdendo a minha fé de que se revelassem mais do que o que realmente eram. Como, por exemplo (não considero o seguinte spoiler algo que não se possa ler, já que é relativo a algo que nunca chega a acontecer e não contém nenhuma informação sobre o progresso da história, mas, mais uma vez, a decisão é vossa)...

 [Spoiler ON] ...o suicídio de Allan Barnes. Sendo Fernanda uma mulher tão perfeita, o que a terá levado a casar com um cobarde? As estranhas e demasiado óbvias circunstâncias da sua morte levaram-me à desconfiança de que, muito provavelmente, haveria mais por detrás de tudo. É comum num romance policial o óbvio se revelar algo mais, certo? No entanto, era tudo tal e qual como se soube. As circunstâncias do seu falecimento raramente foram mencionadas e não receberam especial destaque para além do facto de tudo indicar o suicidío. O que, no fim das contas, acabou mesmo por ser a verdade. [Spoiler OFF].

 Há depois também o facto de, para mim, algumas coisas terem surgido com pouca naturalidade. Como o momento em que descobrimos uma faceta de uma personagem que nunca deu a mínima pista de assim o ser. E a pessoa que descobriu tal faceta conhecia, supostamente, tão bem essa personagem que ficou surpreendida por ser tão ignorante. Mas, bem, verdade seja dita, se era tão correto como a autora insistiu que era e como nada na sua maneira de agir denunciava tal defeito, não culpo a tal personagem. O romance que aqui se desenvolve é demasiado simples e não recebe grande atenção, acabando por receber mais impacto no final. Fugindo do seu género habitual, a autora tinha que encontrar um lugar para inserir as suas habituais histórias, e tal resultou numa não muito boa combinação que necessitava de ser totalmente rescrita para puder ser mais credível.

 Penso que nada mais sobre esta obra merece a minha atenção. Já por si não é de um subgénero que me agrade do policial: tráfico de droga, roubo, homicídios resolvidos e (possível spoiler - que não é tão spoiler assim, pois o título da obra já nos diz muito - riscado a seguir) raptos cujos culpados conhecemos desde o início não fazem o meu estilo. Só esperava um maior desenvolvimento numa obra tão previsível com os suspeitos do costume e as vítimas do costume. Apesar de achar que, ainda assim, não iria ganhar muito mais da minha aprovação, poderia ter sido uma obra bem melhor. Tinha bom potencial e espero que, quando ler mais uma obra de Danielle Steel, fique mais impressionada, embora esta não me tenha deixado particularmente curiosa em relação às próximas.






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