Titulo Original: The Underside of Joy
Ano: 2011
Editor(a): Porto Editora
Páginas: 288
1.ª Edição - Abril 2013
Ella Beene vive uma vida idílica numa pacata cidade americana, com o marido, Joe, e os dois filhos do primeiro casamento deste. Certo dia, porém, infringindo uma regra de ouro, Joe vira costas ao mar e uma onda arrasta-o para o fundo, levando consigo os seus muitos segredos.
Convencida de que a mãe biológica dos filhos, Paige, os tinha abandonado, é com grande surpresa que Ella a vê aparecer no funeral, decidida a recuperar a custódia.
À medida que os segredos emergem, Ella vê a sua vida perfeita ruir como um castelo de cartas. Mas há duas crianças que precisam de si mais do que nunca e pelas quais está disposta a enfrentar todas as adversidades...
Críticas de Imprensa (aba direita):
«O maior amor do mundo aborda as várias fases porque passamos na vida - casamento, maternidade e morte - com grande maturidade, sabedoria e elegância. Uma história que dá que pensar».
Associated Press
«Um romance de estreia comovente sobre mães, segredos e sacrifícios... uma análise lúcida e cuidadosa dos perigos e benesses inerentes aos laços familiares.»
Kirkus Review
«Um sucesso anunciado.»
Publishers Weekly
«Um primeiro romance encantador... comovente e cheio de esperança.»
People Style Watch
«Uma autora a quem devemos estar atentos.»
Bookpage
Associated Press
«Um romance de estreia comovente sobre mães, segredos e sacrifícios... uma análise lúcida e cuidadosa dos perigos e benesses inerentes aos laços familiares.»
Kirkus Review
«Um sucesso anunciado.»
Publishers Weekly
«Um primeiro romance encantador... comovente e cheio de esperança.»
People Style Watch
«Uma autora a quem devemos estar atentos.»
Bookpage
Mini-biografia da autora (aba esquerda):
Seré Prince Halverson é mãe e madrasta e cresceu com uma mãe e uma madrasta. Trabalhou vários anos como copywriter freelance. O maior amor do mundo é o seu primeiro romance e está a ser traduzido para 19 países.
Para mais informações visite o site da autora em www.sereprincehalverson.com
Opinião
O Maior Amor do Mundo tinha tudo para ser uma romance de estreia excelente, mas o seu desenvolvimento deixou muito a desejar e Seré Prince Halverson não foi capaz de satisfazer as minhas exigências de leitora assídua.
Após um casamento falhado que nada tinha para dar certo, Ella Beene ruma a Norte à procura de um sentido para a vida e eis que conhece Joe, recentemente divorciado, pai de duas crianças amorosas e sedentas de carinho, Annie e Zach, de, respetivamente, 3 anos e 6 meses, que foram abandonados, 4 meses antes, pela sua mãe biológica, Paige. Assim, apaixona-se por Joe e adota os seus filhos como se fosse a sua verdadeira mãe e vive os próximos 3 anos junto da família Capozzi «a nadar nas águas da felicidade». Mas tudo acaba quando recebe uma trágica e dolorosa notícia: o homem que ama quebrou a sua própria regra de ouro, virando costas ao mar e sendo arrastado por uma onda. A felicidade de Ella evapora-se no ar. De luto e em sofrimento, descobre ainda que o Mercado Capozzi, a loja e o legado da família, se está a afundar em dívidas. E, quando julgava que as coisas não podiam ser piores, surge Paige no funeral. E quer, aparentemente, levar Annie e Zach consigo.
Ella terá então de lutar não só contra a dor da perda, mas também para provar que o seu amor pelos enteados é tão ou mais forte do que o amor de uma mãe biológica. Mas revelações começam a surgir, coisas que Joe escondeu de Ella, coisas sobre Paige, coisas que mais ninguém chegou a saber. Afinal, quem é a mulher que aparentemente abandonou os filhos? Qual dos dois amores é mais forte: o da mulher que os deu à luz e os criou nos primeiros tempos de vida, de quem não se sabe nada ou quase nada, ou a madrasta que reclamou duas crianças que não eram suas?
Uma premissa tocante e poderosa, como podem comprovar por esta descrição. Mas já se sabe que não basta possuir somente uma ideia promissora. Primeiro, há que fazer o leitor ligar-se à história, agarrar-se às personagens, possuir sentimentos. Grande parte desse trabalho passa pela escrita e a escrita de Seré Prince Halverson deixou muito a desejar. Não possuiu um estilo único e característico que se distinga de muitos outros, apesar de também ele ser promissor. Em alguns momentos é pautado por passagens muito bem escritas e belas, no entanto, na maior parte das vezes, deixa transparecer uma voz ainda amadora. A autora não foi capaz de transpor os sentimentos que desejava que o leitor sentisse para as suas palavras. Não basta descrever os sentimentos da protagonista, é preciso fazer-nos, através da descrição dos cenários, dos momentos, ter sensações únicas e próprias. No que toca a esse aspeto, Halverson falha em tornar os momentos verdadeiramente interessantes. Aquelas coisas banais, como «puxar uma cadeira» ou «pegar no telefone» não me soaram como algo natural no nosso quotidiano. Momentos que deviam ser tocantes não o foram, porque a autora ocupou menos linhas com eles do que as necessárias e não soube escrevê-los de forma a envolver o leitor. Por não prolongar os momentos e torná-los realmente algo, houveram muitas referências que me soavam a palha e que precisavam de mais palha para não o serem. Coisas banais poderiam ter levado a devaneios interessantes que fariam o leitor ligar-se mais à história narrada. As pequenas coisas podiam ter recebido mais importância de modo a que a narrativa fluísse de maneira mais genuína, mas, como isso não acontece, grande parte desses momentos, descrições, flashbacks soam forçados, porque a autora não foi capaz de os ligar de maneira subtil. Assim, de cada vez que o assunto muda, de cada vez que, devido às circunstâncias, Ella visita o passado e surge uma memória antiga, não existe naturalidade na transição e algumas coisas parecem mesmo fingimento.
As personagens escassam de desenvolvimento; são demasiado superficiais. E, quando a autora lhe tenta atribuir alguma complexidade, tudo soa novamente forçado. A família de Joe é o retrato perfeito da família perfeita: uma sogra amorosa e excelente na cozinha, um sogro amável e compreensivo, um cunhado atencioso que é homossexual e o melhor amigo da protagonista. Sim, uma bela família de emigrantes italianos que passam a vida a fazer referências italianas que não adicionam nada de novo à leitura ou à nossa cultura geral, porque limitam-se a falar de pesto e da essência de um verdadeiro italiano com amor à sua nova pátria que são os EUA - basicamente, só estão lá para nos lembrar que Joe era ítalo-americano e eu não gosto de demasiado patriotismo. Acontece que, quando Halverson se viu obrigada a torná-los mais que estes estereótipos, a sogra amorosa torna-se impetuosamente cruel (digam o que disserem, não me conseguirão dissuadir da ideia de que aquela mulher é absolutamente detestável), o sogro amável e compreensivo vê-se na difícil tarefa de se manter amável e compreensivo ao mesmo tempo que tenta agradar a mulher, assumindo assim o papel de ressentido, o cunhado atencioso que é homossexual e o melhor amigo da protagonista vira-lhe as costas porque está desiludido e não a consegue encarar. Quanto a Lucy, a melhor amiga de Ella, não há realmente muito que se lhe diga, porque limita-se a ser aquilo que a autora queria que ela fosse: nada mais e nada menos do que alguém a quem Ella pode ligar quando os Capozzi tiram a máscara. Lizzie, a esposa do melhor amigo de Joe que não pode ser amiga de Ella porque é amiga de Paige (pura infantilidade entre adultos e a coisa mais estúpida que já ouvi que não veio nem de um livro infantil ou de um juvenil), só tem realmente um propósito neste livro, que é fazer, num determinado momento da obra, revelações que farão a história andar para a frente. Não sabemos realmente muito sobre o falecido Joe ou as razões para fazer o que fez, todavia, tendo em conta tudo o que sabemos e descobrimos, posso afirmar que não gostei dele.
E, como não podia deixar de ser, também tive os meus problemas com Ella. Não consegui criar qualquer ligação com ela, com o seu sofrimento e os seus dilemas, e estou certa de que isso nada a ver com o facto de estar deprimida durante grande parte do livro. As suas ações menos racionais escassam de uma explicação aprofundada, o que resultou em reprovação constante por coisas que eu sabia que só estavam lá porque tinham de acontecer, para que a história tivesse pernas para andar, mas que podiam ter acontecido de maneira diferente. Mais uma vez, a autora falha quando tenta explorar melhor certas características de uma personagem, que não acredito que tenha tido direito a um rascunho digno, embora certamente a protagonista tenha sido baseada em pelo menos mais do que meia dúzias de frases. Quando tenta abordar a morte do pai de Ella e as memórias que esta reprimiu, falha no sentido de oportunidade, e algo que era suposto ter impacto no leitor e ensinar-lhe algumas lições valiosas recebe tempo de antena mal aproveitado. Halverson teve, por inúmeras vezes, a oportunidade de nos ensinar como o passado nos marca e modifica, como faz de nós o que somos hoje, mas obviamente que o escasso desenvolvimento do elenco não favorece a tarefa. Pôde fazer isso com Ella, com a família Capozzi, que vive em silêncio em relação a um acontecimento doloroso que se deu durante a 2.ª Guerra Mundial, com David, o cunhado e amigo, que mais tarde nos revela como o facto de ser gay lhe fechou as portas para algo que desejava desde pequeno e levou a rivalidades com o irmão que também viu os seus sonhos serem desfeitos pelas expectativas da família, e, por fim, e sem dúvida o mais importante, com Paige, quando nos deu a entender que nem tudo era preto no branco quanto aparentava ser.
Lá para os momentos finais, a autora tenta explorar melhor esta personagem - de quem não sabemos grande coisa durante muitas páginas - e atribuir-lhe alguma densidade psicológica. Podíamos ter obtido mais fragmentos de Paige, se tivesse havido sequer uma conversa entre esta e Ella em relação à custódias das crianças. Acontece que se limitaram a levar o caso para tribunal, sem uma troca de palavras digna, sem tentar chegar a um acordo, sem falar com as crianças, sem Ella sequer se questionar porque raio é que a sua suposta adversária haveria de querer de volta, após 3 anos, os filhos rejeitados (e claro que, depois, as vítimas são Annie e Zach, as crianças). Apesar de a mini-biografia da autora nos revelar que esta não só é madrasta como é mãe, Halverson pintou Paige como uma bruxa má durante grande parte da obra e, novamente, não soube dar a devida importância a certas passagens e momentos que nos permitiriam conhecê-la muito melhor, descartando-os em vez disso e destacando antes aquilo que não é tão merecedor de importância, mas que a recebeu, efetivamente, e em demasia. Apesar de as coisas terem melhorado à medida que me aproximava do final, o mesmo não me pareceu, de todo, um produto de todos os acontecimentos que se deram durante todas as 274 páginas de história, mas sim aquilo que a autora queria que acontecesse, sem traçar um caminho racional que nos levasse diretamente aquele ponto.
Concluindo, não é um mau livro e é bem capaz de fazer as delicias dos leitores menos exigentes, todavia, não foi satisfatório o suficiente para fazer as minhas delícias. Para além de todos os aspetos mencionados, teve ainda um ou outro momento sem sentido ou razão para acontecer (momentos estúpidos, vamos pôr as coisas nestes termos) que me aborreceram e diminuíram um pouco mais a minha vontade de ler, que não era muita por não ter criado qualquer ligação com a história ou personagens. Talvez, se estivéssemos perante uma obra de uma nova autora portuguesa, eu me desse ao trabalho de estar atenta a mais livros seus, mas, como não o é, não sinto que tenha qualquer tipo de dever para com Halverson e por isso não pretendo ler mais obras suas, já que esta estreia não me surpreendeu propriamente e mais nenhum dos seus livros recebeu tanto reconhecimento. Se as personagens não escasseassem de densidade psicológica e tivessem boas bases, se a escrita soubesse prolongar os momentos e torná-los especiais e não meras banalidades, se Seré Prince Halverson possuísse a capacidade de transpor sentimentos do papel para o coração do leitor, se desse importância aos aspetos que considerou insignificantes (ou não merecedores de importância), se tivesse riscado os momentos estúpidos, se tudo neste livro não suasse tão forçado aos olhares mais atentos dos leitores mais exigentes e se a história fluísse com naturalidade, certamente esta obra excederia as 350 páginas, talvez 400, e seria digna de ser lida por todo o tipo de leitores e por todas as mães do mundo. Seria tocante, memorável e far-nos-ia largar uma lagrimazinhas. No entanto, se o vosso amor pela leitura não teve qualquer influência maternal, se a vossa mãe é uma leitora ocasional, podem sempre ponderar a hipótese comprar este livro para lhe oferecer num dia especial - o seu aniversário, Natal, o dia da mãe, que certamente será uma prenda merecedora de aprovação.
Somente um pequeno aparte relacionado com a tradução: para aqueles que têm boas bases de inglês e frequente contacto com a língua, facilmente percebem que há claramente um trocadilho no slogan «Quer virar a página? Ligue a Paige» entre a palavra «página» (page) e «Paige», que não recebeu qualquer nota de rodapé que explicasse porque razão Ella o considerara uma rima pateta e que perdeu muito da sua essência quando traduzida. Não há muito mais acrescentar, uma falha aqui e a ali sobretudo relacionada com a omissão de pequenas palavras ou alteração da ordem de alguns conectores ou adjetivos, mas nada que prejudicasse muito a leitura.
No Goodreads, atribuo-lhe as 2,5* de 5 e, no entanto, também não acho que as 3 estrelas de 10 que lhe dou são, de todo, justas. Não lhe posso dar as 4, pois, embora não tenha desgostado do livro de todo, atribuir-lhe uma classificação que corresponde ao Gostei seria falso: foi uma obra que me deixou indiferente e não me fez sentir nenhum sentimento em particular, quer negativo, quer positivo. Este é, portanto, um arredondamento por defeito.
Para mais informações visite o site da autora em www.sereprincehalverson.com
Opinião
O Maior Amor do Mundo tinha tudo para ser uma romance de estreia excelente, mas o seu desenvolvimento deixou muito a desejar e Seré Prince Halverson não foi capaz de satisfazer as minhas exigências de leitora assídua.
Após um casamento falhado que nada tinha para dar certo, Ella Beene ruma a Norte à procura de um sentido para a vida e eis que conhece Joe, recentemente divorciado, pai de duas crianças amorosas e sedentas de carinho, Annie e Zach, de, respetivamente, 3 anos e 6 meses, que foram abandonados, 4 meses antes, pela sua mãe biológica, Paige. Assim, apaixona-se por Joe e adota os seus filhos como se fosse a sua verdadeira mãe e vive os próximos 3 anos junto da família Capozzi «a nadar nas águas da felicidade». Mas tudo acaba quando recebe uma trágica e dolorosa notícia: o homem que ama quebrou a sua própria regra de ouro, virando costas ao mar e sendo arrastado por uma onda. A felicidade de Ella evapora-se no ar. De luto e em sofrimento, descobre ainda que o Mercado Capozzi, a loja e o legado da família, se está a afundar em dívidas. E, quando julgava que as coisas não podiam ser piores, surge Paige no funeral. E quer, aparentemente, levar Annie e Zach consigo.
Ella terá então de lutar não só contra a dor da perda, mas também para provar que o seu amor pelos enteados é tão ou mais forte do que o amor de uma mãe biológica. Mas revelações começam a surgir, coisas que Joe escondeu de Ella, coisas sobre Paige, coisas que mais ninguém chegou a saber. Afinal, quem é a mulher que aparentemente abandonou os filhos? Qual dos dois amores é mais forte: o da mulher que os deu à luz e os criou nos primeiros tempos de vida, de quem não se sabe nada ou quase nada, ou a madrasta que reclamou duas crianças que não eram suas?
Uma premissa tocante e poderosa, como podem comprovar por esta descrição. Mas já se sabe que não basta possuir somente uma ideia promissora. Primeiro, há que fazer o leitor ligar-se à história, agarrar-se às personagens, possuir sentimentos. Grande parte desse trabalho passa pela escrita e a escrita de Seré Prince Halverson deixou muito a desejar. Não possuiu um estilo único e característico que se distinga de muitos outros, apesar de também ele ser promissor. Em alguns momentos é pautado por passagens muito bem escritas e belas, no entanto, na maior parte das vezes, deixa transparecer uma voz ainda amadora. A autora não foi capaz de transpor os sentimentos que desejava que o leitor sentisse para as suas palavras. Não basta descrever os sentimentos da protagonista, é preciso fazer-nos, através da descrição dos cenários, dos momentos, ter sensações únicas e próprias. No que toca a esse aspeto, Halverson falha em tornar os momentos verdadeiramente interessantes. Aquelas coisas banais, como «puxar uma cadeira» ou «pegar no telefone» não me soaram como algo natural no nosso quotidiano. Momentos que deviam ser tocantes não o foram, porque a autora ocupou menos linhas com eles do que as necessárias e não soube escrevê-los de forma a envolver o leitor. Por não prolongar os momentos e torná-los realmente algo, houveram muitas referências que me soavam a palha e que precisavam de mais palha para não o serem. Coisas banais poderiam ter levado a devaneios interessantes que fariam o leitor ligar-se mais à história narrada. As pequenas coisas podiam ter recebido mais importância de modo a que a narrativa fluísse de maneira mais genuína, mas, como isso não acontece, grande parte desses momentos, descrições, flashbacks soam forçados, porque a autora não foi capaz de os ligar de maneira subtil. Assim, de cada vez que o assunto muda, de cada vez que, devido às circunstâncias, Ella visita o passado e surge uma memória antiga, não existe naturalidade na transição e algumas coisas parecem mesmo fingimento.
As personagens escassam de desenvolvimento; são demasiado superficiais. E, quando a autora lhe tenta atribuir alguma complexidade, tudo soa novamente forçado. A família de Joe é o retrato perfeito da família perfeita: uma sogra amorosa e excelente na cozinha, um sogro amável e compreensivo, um cunhado atencioso que é homossexual e o melhor amigo da protagonista. Sim, uma bela família de emigrantes italianos que passam a vida a fazer referências italianas que não adicionam nada de novo à leitura ou à nossa cultura geral, porque limitam-se a falar de pesto e da essência de um verdadeiro italiano com amor à sua nova pátria que são os EUA - basicamente, só estão lá para nos lembrar que Joe era ítalo-americano e eu não gosto de demasiado patriotismo. Acontece que, quando Halverson se viu obrigada a torná-los mais que estes estereótipos, a sogra amorosa torna-se impetuosamente cruel (digam o que disserem, não me conseguirão dissuadir da ideia de que aquela mulher é absolutamente detestável), o sogro amável e compreensivo vê-se na difícil tarefa de se manter amável e compreensivo ao mesmo tempo que tenta agradar a mulher, assumindo assim o papel de ressentido, o cunhado atencioso que é homossexual e o melhor amigo da protagonista vira-lhe as costas porque está desiludido e não a consegue encarar. Quanto a Lucy, a melhor amiga de Ella, não há realmente muito que se lhe diga, porque limita-se a ser aquilo que a autora queria que ela fosse: nada mais e nada menos do que alguém a quem Ella pode ligar quando os Capozzi tiram a máscara. Lizzie, a esposa do melhor amigo de Joe que não pode ser amiga de Ella porque é amiga de Paige (pura infantilidade entre adultos e a coisa mais estúpida que já ouvi que não veio nem de um livro infantil ou de um juvenil), só tem realmente um propósito neste livro, que é fazer, num determinado momento da obra, revelações que farão a história andar para a frente. Não sabemos realmente muito sobre o falecido Joe ou as razões para fazer o que fez, todavia, tendo em conta tudo o que sabemos e descobrimos, posso afirmar que não gostei dele.
E, como não podia deixar de ser, também tive os meus problemas com Ella. Não consegui criar qualquer ligação com ela, com o seu sofrimento e os seus dilemas, e estou certa de que isso nada a ver com o facto de estar deprimida durante grande parte do livro. As suas ações menos racionais escassam de uma explicação aprofundada, o que resultou em reprovação constante por coisas que eu sabia que só estavam lá porque tinham de acontecer, para que a história tivesse pernas para andar, mas que podiam ter acontecido de maneira diferente. Mais uma vez, a autora falha quando tenta explorar melhor certas características de uma personagem, que não acredito que tenha tido direito a um rascunho digno, embora certamente a protagonista tenha sido baseada em pelo menos mais do que meia dúzias de frases. Quando tenta abordar a morte do pai de Ella e as memórias que esta reprimiu, falha no sentido de oportunidade, e algo que era suposto ter impacto no leitor e ensinar-lhe algumas lições valiosas recebe tempo de antena mal aproveitado. Halverson teve, por inúmeras vezes, a oportunidade de nos ensinar como o passado nos marca e modifica, como faz de nós o que somos hoje, mas obviamente que o escasso desenvolvimento do elenco não favorece a tarefa. Pôde fazer isso com Ella, com a família Capozzi, que vive em silêncio em relação a um acontecimento doloroso que se deu durante a 2.ª Guerra Mundial, com David, o cunhado e amigo, que mais tarde nos revela como o facto de ser gay lhe fechou as portas para algo que desejava desde pequeno e levou a rivalidades com o irmão que também viu os seus sonhos serem desfeitos pelas expectativas da família, e, por fim, e sem dúvida o mais importante, com Paige, quando nos deu a entender que nem tudo era preto no branco quanto aparentava ser.
Lá para os momentos finais, a autora tenta explorar melhor esta personagem - de quem não sabemos grande coisa durante muitas páginas - e atribuir-lhe alguma densidade psicológica. Podíamos ter obtido mais fragmentos de Paige, se tivesse havido sequer uma conversa entre esta e Ella em relação à custódias das crianças. Acontece que se limitaram a levar o caso para tribunal, sem uma troca de palavras digna, sem tentar chegar a um acordo, sem falar com as crianças, sem Ella sequer se questionar porque raio é que a sua suposta adversária haveria de querer de volta, após 3 anos, os filhos rejeitados (e claro que, depois, as vítimas são Annie e Zach, as crianças). Apesar de a mini-biografia da autora nos revelar que esta não só é madrasta como é mãe, Halverson pintou Paige como uma bruxa má durante grande parte da obra e, novamente, não soube dar a devida importância a certas passagens e momentos que nos permitiriam conhecê-la muito melhor, descartando-os em vez disso e destacando antes aquilo que não é tão merecedor de importância, mas que a recebeu, efetivamente, e em demasia. Apesar de as coisas terem melhorado à medida que me aproximava do final, o mesmo não me pareceu, de todo, um produto de todos os acontecimentos que se deram durante todas as 274 páginas de história, mas sim aquilo que a autora queria que acontecesse, sem traçar um caminho racional que nos levasse diretamente aquele ponto.
Concluindo, não é um mau livro e é bem capaz de fazer as delicias dos leitores menos exigentes, todavia, não foi satisfatório o suficiente para fazer as minhas delícias. Para além de todos os aspetos mencionados, teve ainda um ou outro momento sem sentido ou razão para acontecer (momentos estúpidos, vamos pôr as coisas nestes termos) que me aborreceram e diminuíram um pouco mais a minha vontade de ler, que não era muita por não ter criado qualquer ligação com a história ou personagens. Talvez, se estivéssemos perante uma obra de uma nova autora portuguesa, eu me desse ao trabalho de estar atenta a mais livros seus, mas, como não o é, não sinto que tenha qualquer tipo de dever para com Halverson e por isso não pretendo ler mais obras suas, já que esta estreia não me surpreendeu propriamente e mais nenhum dos seus livros recebeu tanto reconhecimento. Se as personagens não escasseassem de densidade psicológica e tivessem boas bases, se a escrita soubesse prolongar os momentos e torná-los especiais e não meras banalidades, se Seré Prince Halverson possuísse a capacidade de transpor sentimentos do papel para o coração do leitor, se desse importância aos aspetos que considerou insignificantes (ou não merecedores de importância), se tivesse riscado os momentos estúpidos, se tudo neste livro não suasse tão forçado aos olhares mais atentos dos leitores mais exigentes e se a história fluísse com naturalidade, certamente esta obra excederia as 350 páginas, talvez 400, e seria digna de ser lida por todo o tipo de leitores e por todas as mães do mundo. Seria tocante, memorável e far-nos-ia largar uma lagrimazinhas. No entanto, se o vosso amor pela leitura não teve qualquer influência maternal, se a vossa mãe é uma leitora ocasional, podem sempre ponderar a hipótese comprar este livro para lhe oferecer num dia especial - o seu aniversário, Natal, o dia da mãe, que certamente será uma prenda merecedora de aprovação.
Somente um pequeno aparte relacionado com a tradução: para aqueles que têm boas bases de inglês e frequente contacto com a língua, facilmente percebem que há claramente um trocadilho no slogan «Quer virar a página? Ligue a Paige» entre a palavra «página» (page) e «Paige», que não recebeu qualquer nota de rodapé que explicasse porque razão Ella o considerara uma rima pateta e que perdeu muito da sua essência quando traduzida. Não há muito mais acrescentar, uma falha aqui e a ali sobretudo relacionada com a omissão de pequenas palavras ou alteração da ordem de alguns conectores ou adjetivos, mas nada que prejudicasse muito a leitura.
No Goodreads, atribuo-lhe as 2,5* de 5 e, no entanto, também não acho que as 3 estrelas de 10 que lhe dou são, de todo, justas. Não lhe posso dar as 4, pois, embora não tenha desgostado do livro de todo, atribuir-lhe uma classificação que corresponde ao Gostei seria falso: foi uma obra que me deixou indiferente e não me fez sentir nenhum sentimento em particular, quer negativo, quer positivo. Este é, portanto, um arredondamento por defeito.
Citações Favoritas:
- (...) a perfeição é um peso que nenhum de nós consegue suportar, vivo ou morto. [Ella] (Pág. 182)
- (...) a felicidade mais genuína flutua sobre uma camada de dor. [Ella] (Pág. 281)
Por acaso não tinha nada desta autora nas Crónicas de uma Leitora Compulsiva... e se calhar ainda bem :/
ResponderEliminarÉ o livro de estreia de uma autora amadora com ainda muito que aprender... Não traz muito de novo.
EliminarBeijinhos e Boas Leituras! :)
*Mistery